Você conhece a Mensagem de Amã? Um Compromisso Com a Unidade do Mundo Islâmico

Em um mundo onde a divisão e o sectarismo têm sido obstáculos para a unidade da comunidade islâmica, a Mensagem de Amã surgiu como uma alternativa e um passo na busca da coexistência pacífica. Lançada em 2004 em Amã, na Jordânia, por Sua Majestade, o Rei Abdullah II, essa iniciativa teve como objetivo promover a solidariedade e a compreensão mútua entre os muçulmanos, reconhecendo que as diferentes escolas de pensamento compartilham uma crença comum no Islam e no Profeta Muhammad. A Mensagem de Amã busca evitar qualquer forma de excomunhão (takfir) entre os muçulmanos com base em diferenças sectárias e enfatiza a importância de respeitar as diversas tradições islâmicas.

Takfir significa declarar outro muçulmano como descrente ou apóstata, e é altamente desencorajado pelos grandes estudiosos do Islam, assim como o era pelo próprio Profeta Mohammad (que a paz e as bênçãos de Deus estejam com ele) conforme relatado por Muslim:

“Se alguém disser a seu irmão ‘ó incrédulo’ [ou ‘ó descrente’], isso recai sobre um deles.” (Sahih Muslim)

Outro hadith pertinente é relatado por Al-Bukhari e Muslim:

“Quem acusar alguém de descrença ou disser: ‘Inimigo de Allah!’ embora ele seja inocente disso, o rótulo recairá sobre o acusador.” (Sahih Al-Bukhari, Sahih Muslim)

Este hadith destaca que acusar alguém erroneamente de descrença terá implicações graves para aquele que faz a acusação.

Além do erro que o crente possa estar cometendo ao julgar erroneamente um irmão, e o perigo de ele próprio ser contado entre os descrentes por Allah, do ponto de vista externo fazer takfir uns dos outros pode trazer divisões, perseguições e enfraquecer a comunidade islâmica como um todo. 

Sabendo-se então o quanto é difícil dizer quem é ou não é muçulmano, vamos tentar resumir aqui a conclusão que mais de 200 eminentes eruditos islâmicos de várias partes do mundo endossaram nesse documento.

Os fundamentos do Islam são:

  • o testemunho da unidade de Deus (tawhid Allah); 
  • a crença na mensagem do Seu Profeta; 
  • a conexão contínua com o Criador por meio da oração ritual (salat); 
  • o treinamento e a retificação da alma através do jejum do Ramadan; 
  • a proteção mútua por meio do pagamento do zakat, a caridade; 
  • a unidade do povo por meio da peregrinação anual (hajj) à Casa Sagrada de Deus, realizada por aqueles que são capazes; 
  • e a observância de Suas regras que regulam o comportamento humano em todas as suas dimensões. 

Ao longo da história, esses princípios básicos formaram uma nação forte e coesa e uma grande civilização. Dão testemunho de valores nobres, cujo alicerce é a própria unidade da espécie humana; deixam claro que as pessoas são iguais em direitos e obrigações e merecem todas igualmente a paz, a justiça e a mais ampla segurança, trabalhando em responsabilidade social mútua, sendo boas com o próximo, protegendo os bens de todos, honrando os compromissos e muito mais.

O Islam:

  • Honra todo ser humano, independentemente de sua cor, raça e religião;
  • Afirma que a forma de chamar as pessoas a Deus é fundada na bondade e na gentileza;
  • Deixa claro que o objetivo de sua mensagem é trazer a misericórdia e o bem para todas as pessoas;
  • Nos chama a tratar as pessoas como nós mesmos desejaríamos ser tratados;
  • Confirma o princípio de justiça na interação com os outros, garantindo sua vida, seus direitos, sua honra e seus bens;
  • Exige o respeito aos compromissos e tratados de acordo com o que foi firmado e proíbe a traição;
  • Reconhece a nobreza da vida humana; portanto, não deve haver combate contra não combatentes e nenhum ataque contra civis e seus bens. O ataque à vida de um ser humano, seja assassinato, ferimento ou ameaça, é um ataque ao direito à vida de todos os seres humanos. É um dos pecados mais graves, pois a vida humana é a base para a prosperidade da humanidade;
  • É fundado na equanimidade, no equilíbrio, na moderação e na facilitação;
  • Rejeita o extremismo, o radicalismo e o fanatismo;

A principal declaração da Mensagem de Amã consiste em três pontos fundamentais:

  1. Em primeiro lugar, o documento dá uma definição bem ampla de quem é muçulmano. O muçulmano é aquele que acredita em Deus (Glorificado e Exaltado seja) e em Seu Mensageiro (que a paz e as bênçãos estejam sobre ele), reconhece os pilares da fé e os cinco pilares do Islam e não nega nenhum princípio religioso evidente por si. É expressamente proibido fazer takfir desse grupo de pessoas. Concretamente, essa definição inclui no Islam os sunitas em geral, os xiitas adeptos das escolas de jurisprudência Ja’fari e Zaydi, os Ibadis e os Zhahiris. É igualmente proibido fazer takfir de um muçulmano por ser adepto do sufismo ou do salafismo.
  2. Há mais coisas em comum do que diferenças entre as várias escolas de pensamento dentro do Islam. Todas as escolas concordam com os princípios básicos do Islam, como a crença em Deus, o Alcorão como palavra divina revelada, o Profeta Muhammad como mensageiro de Deus e os cinco pilares do Islam (Shahada, Salat, Zakat, Jejum no Ramadã e Hajj). As diferenças entre as escolas estão relacionadas principalmente a questões secundárias da religião e não aos princípios fundamentais. Essas divergências são vistas como algo positivo pelos estudiosos
  3. Reconhecer as escolas de jurisprudência islâmica dentro do Islam significa aderir a uma metodologia fundamental na emissão de fatwas: ninguém pode emitir uma fatwa sem as qualificações de conhecimento necessárias. (A fatwa é uma resposta a uma questão jurídica concreta, sem valor coercitivo.) Além disso, ninguém pode emitir uma fatwa sem aderir à metodologia das escolas de jurisprudência islâmica. Ninguém pode ter a pretensão de interpretar as fontes da revelação a partir do zero e criar uma nova opinião ou emitir fatwas inaceitáveis que conduzam os muçulmanos para fora dos princípios e certezas da Shari`ah e do que foi estabelecido em relação às suas escolas de jurisprudência.

Por fim, a mensagem também rejeitou enfaticamente o terrorismo e a violência em nome do Islam. Ao condenar qualquer forma de extremismo, essa iniciativa buscou distanciar o Islam autêntico de grupos terroristas que exploram a religião para fins violentos que nada têm a ver com ela.

Nós, da Editora Bismillah, nos pautamos pela Mensagem de Amã e convidamos todos os nossos irmãos muçulmanos à união e ao diálogo com as diferentes escolas de pensamento.  Ao abraçar a diversidade, promover a tolerância e rejeitar o extremismo, essa mensagem serve como um farol de esperança para uma comunidade em formação. Que essa mensagem ressoe cada vez mais alto, fortalecendo os laços fraternos entre os muçulmanos e contribuindo para um futuro de respeitoso convívio e apoio mútuo aqui no Brasil.

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